quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


 
A transposição das águas do rio São Francisco foi prometida pelo governo como a redenção das regiões mais áridas do Nordeste. Por enquanto a gigantesca obra, em custos e dimensões, continua sendo apenas uma promessa, prejudicada por constantes atrasos e falta de planejamento.

A transposição do rio São Francisco é a maior obra de infraestrutura hídrica em andamento no país, e os números são faraônicos. São R$ 8,2 bilhões de custo previsto, 3.908 operários e 12 milhões de pessoas a serem beneficiadas.

A obra está sendo executa duas frentes, ou eixos: o leste, com 220 km em obras, que levará água de Pernambuco à Paraíba, e o norte, com 402 km em obras, que sairá de Pernambuco, passando pelo Ceará, pela Paraíba e chegando até o Rio Grande do Norte.

Canais, túneis e barragens estão sendo construídos, mas apenas 43% dos serviços estão concluídos, bem distante da promessa do governo. “Está previsto a gente inaugurar definitivamente a obra até 2012", declarou Lula em 14 de dezembro de 2010.

No interior da Paraíba, a estiagem é impiedosa. A transposição do rio São Francisco vai beneficiar mais de 2,5 milhões de paraibanos, mas o atraso nas obras desanima. No eixo leste, o canal foi construído até pouco mais de seis quilômetros da divisa de Pernambuco com a Paraíba. Os sinais são de abandono, nada de máquinas e operários. Placas de concreto, que nunca receberam uma gota d'água, estão rachadas. Outras estão totalmente destruídas. Em São José das Piranhas, penas a obra do túnel não está paralisada.

No Ceará, máquinas foram abandonadas em Mauriti, no sul do estado. No Rio Grande do Norte, a obra ainda não saiu do papel. O valor inicial da transposição passou de R$ 4,5 bilhões para mais de R$ 8 bilhões, e serviços terão que ser refeitos.

Em uma lista de recomendações, está a conclusão dos auditores: "O Ministério da Integração absteve-se de agir no momento oportuno, quando deveria ter dado maior celeridade na condução do processo para evitar consequências como a paralisação e o abandono de parte do empreendimento. O Ministério da Integração se absteve de agir no momento oportuno para evitar consequências como a paralisação e o abandono”.

Esse é uma das conclusões de uma auditoria aprovada em julho deste ano. “Todos os dias é acrescida uma coisa que não estava prevista. Todos os dias, aparece mais um problema que também não estava previsto”, diz Raimundo Carreiro, relator do TCU.

Um documento do Ministério da Integração mostra que em Custódia, Pernambuco, o consórcio queria cobrar R$ 51 por metro quadrado de serviço, mas o Ministério constatou que o preço era de pouco mais de R$ 2 o metro quadrado, uma diferença total de R$ 12 milhões.

O problema é que a constatação só veio depois da assinatura do contrato, em abril deste ano. O Ministério afirma que está revendo os custos da obra e que, assim que foi descoberta a diferença, os pagamentos não foram liberados. A empresa paralisou o serviço.

Enquanto as obras das construtoras se arrastam, os serviços feitos pelo Exército já estão prontos no eixo norte e 97% concluídos no eixo oeste.

O Ministério da Integração admite. “Existe problema de gestão do Ministério. Tudo o que não foi feito ou o que foi feito e deteriorou-se, essas empresas vão fazer, porque nós estamos em processo de encerramento de contrato, de rescisão de contrato, de penalização. Elas vão ter que fazer”, diz Robson Botelho, diretor do Departamento de Projetos Estratégicos do Ministério da Integração.

A obra só deve terminar em 2015. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, que comanda as obras do PAC, atribuiu os atrasos às empresas que abandonaram o trabalho e à complexidade do projeto.

Por meio da assessoria, o ex-presidente Lula declarou que não vai comentar questões administrativas do atual governo.

 

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